Alguns ‘senhores do tempo’, como o da Central e o da Glória, são ajustados e consertados por uma só pessoa
Alguns estão parados no tempo. Outros funcionam, embora nem sempre com precisão suíça. Antigos ou modernos, o Rio tem mais de 400 relógios em áreas públicas e fachadas de prédios. Boa parte deles requer cuidados especiais, como o do Largo da Glória, de 1905, movido a corda, e o da Central do Brasil, de 1943, com acionamento eletromecânico.
Ajustar e fazer a manutenção desses dois relógios são tarefas exclusivas: só um relojoeiro mexe no da Glória, enquanto um mecânico que já foi paraquedista é responsável por tarefas como a substituição de lâmpadas e pela lubrificação dos eixos dos ponteiros do da Central. Funcionário da Secretaria de Segurança Pública, Luciano Luiz de Moraes Oliveira é o faz tudo do relógio da Central desde 2004. De seis em seis meses, quando é preciso trocar as lâmpadas fluorescentes, ele encara mais de cem metros de altura, numa cadeira especial. Para fazer a manutenção dos ponteiros, Oliveira, de 40 anos e 96 quilos, seguro por cabos de aço, se posiciona sobre os dois gigantes de ferro galvanizado, que pesam 210 e 178 quilos. Os trabalhos externos são feitos das 8h às13h, para evitar os ventos mais fortes.
— Não tenho medo algum de ficar pendurado para fazer os reparos no relógio. Tenho medo, sim, é de andar de avião — revela Oliveira.
Para se chegar ao centro de controle do relógio de quatro faces da Central — hoje sob a responsabilidade da Secretaria de Segurança — é preciso pegar três elevadores: até o quarto, o 19º e o 24º andares. O mecanismo do relógio é original, mas o motor e os comandos já foram substituídos.
Também com quatro faces, o relógio da Glória não é apenas o mais antigo do Rio. Para Vera Dias, gerente de Monumentos e Chafarizes do município, ele é ainda o mais valioso: "A sua engrenagem é alemã e toda original".
Praça Quinze: relógio parado
Há 14 anos, o relojoeiro José Mendes Neto cuida da peça, que foi recuperada em 2011. Toda semana é preciso dar corda. Mendes mantém no carro as chaves usadas para dar corda e a que abre a porta da engrenagem do relógio:
— Preciso estar preparado para correr em casos de emergência. Quando o relógio para, os vizinhos me telefonam logo.
Entre os que não cumprem a função básica de dar a hora, o relógio do alto da Estação Praça Quinze é de 1906, e está maltratado e sujo. Cinco anos mais velho, o também histórico relógio da fachada do 4º BPM (São Cristóvão) não tem prazo para voltar a informar a hora aos que passam pela Rua Francisco Eugênio.
Outro “senhor do tempo” parado é o do Largo da Carioca. Mas o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osório, tem uma boa notícia: depois de oito meses de um processo de adoção pelo BNDES, sem sucesso, a prefeitura resolveu licitar o serviço de revitalização do maquinário, orçado em R$400 mil. O relógio será desmontado e terá a substituição de peças em ferro corroídas.
Peça da antiga Mesbla virou marco do Centro
Um dos marcos visuais do Centro, o relógio da antiga Mesbla funciona, mas não é o mesmo de quando foi instalado na torre do edifício, em 1955. O eletricista Antônio Abreu, que ajustou o relógio de 1964 até a falência da Mesbla em 1999, recorda que, do alto da torre, bandeirolas coloridas (brancas, azuis e vermelhas) anunciavam a previsçao do tempo. Relíquias preciosas — o controle-mestre francês Brillié e o carrilhão, que tocava músicas a cada 15 minutos — estão guardadas na sobreloja das Lojas Americanas, que ocuparam o prédio no Passeio.
— O controle-mestre acertava todos os relógios da Mesbla — conta Antônio.
A torre do relógio é mantida pela empresa Contax. Para chegar até a máquina, é preciso pegar um elevador até o 11º andar, cruzat o terraço, entrar no prédio da torre e subir 151 degraus. Mais 45 degraus, chega-se ao local onde estão o guindaste e a caçamba usados, no passado, para fazer reparos em lâmpadas e ponteiros.
— Hoje o trabalho é feito por alpinistas — conta Reginaldo Ferreira de Souza, que foi funcionário da Mesbla.
Entre os relógios de versão moderna, a Secretaria Municipal de Conservação contabiliza 377 aparelhos digitais espalhados pela cidade: 170 na Zona Sul e no Centro, 74 na Zona Norte e 133 na Barra e na Zona Oeste. Outros 23 têm de ser instalados pelas empresas Adshel e Cemusa, que, em troca de publicidade, colocam e mantém os digitais.
Um relógio de cara antiga num prédio pós-moderno, o RB1, na Avenida Rio Branco, tem algarismos romanos. O quatro é representado na forma IIII, prieira versão romana do número. De hora em hora, de segunda a sexta-feira, ele toca músicas como Cidade Maravilhosa e Cisne Branco. A administradora Ângela Roda fez uma pesquisa e descobriu que o relógio do RB1 é o terceiro em diâmetro do Rio e maior que o inglês Big Ben:
— Ele tem 7,8 metros de diâmetro, atrás do da Central (dez metros em cada face) e do da antiga Mesbla (nove metros). O Big Ben tem 7,5 metros.
Muito legal essa matéria que documenta essas maravilhas do tempo que estão em nossas esquinas. Vou ver se ainda consigo registrar os outros como fiz com o da Glória.
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